Dengue é a enfermidade causada pelo vírus da dengue, um arbovírus da famíliaFlaviviridae, gênero Flavivírus, que inclui quatro tipos imunológicos:
DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A infecção por um deles dá proteção permanente para
o mesmo sorotipo eimunidade parcial e temporária contra os outros
três.
A dengue tem, como hospedeiro vertebrado, o homem e outros primatas, mas
somente o primeiro apresenta manifestação clínica da infecção e período de viremia de
aproximadamente sete dias. Nos demais primatas, a viremia é baixa e de curta
duração.
O vírus da dengue, provavelmente, se
originou de vírus que circulavam em primatas na proximidade da península da
Malásia. O crescimento populacional aproximou as habitações da região à selva
e, assim, mosquitos transmitiram vírus ancestrais dos primatas aos humanos que,
após mutações, originaram nossos quatro diferentes tipos de vírus da dengue.
Provavelmente, o termo dengue é derivado da frase swahili "ki
dengu pepo", que descreve os ataques causados
por maus espíritos e, inicialmente, usado para descrever a enfermidade que acometeu os ingleses durante
a epidemia que afetou asÍndias Ocidentais
Espanholas em 1927-1928. Foi trazida para o continente americano a partir do Velho Mundo, com a colonização no final do século XVIII. Entretanto, não é possível afirmar,
pelos registros históricos, que as epidemias foram
causadas pelos vírus da dengue, visto que seus sintomas são similares aos de
várias outras infecções, em especial, a febre amarela.
Atualmente, a dengue é a arbovirose mais comum que atinge o homem, sendo
responsável por cerca de 100 milhões de casos/ano em população de risco de 2,5
a 3 bilhões de seres humanos. A febre hemorrágica da dengue (FHD) e síndrome de
choque da dengue (SCD) atingem pelo menos 500 mil pessoas/ano, apresentando taxa de mortalidade de até 10% para pacientes hospitalizados e
30% para pacientes não tratados.
A dengue é endêmica no sudeste asiático e tem originado epidemias em
várias partes da região tropical, em intervalos de 10 a 40 anos.
Uma pandemia teve início na década dos anos 50 no sudeste asiático e, nos últimos 15
anos, vem se intensificando e se propagando pelos países tropicais do sul do Pacífico, África Oriental, ilhas do Caribe e América Latina.
Epidemias da forma hemorrágica da doença
têm ocorrido na Ásia, a partir da década de 1950, e no sul do Pacífico, na dos 80.
Entretanto, alguns autores consideram que a doença não seja tão recente,
podendo ter ocorrido nos EUA, África do Sul e Ásia, no fim do século XIX e início do XX.Durante a epidemia que ocorreu em Cuba, em 1981, foi
relatado o primeiro de caso de dengue hemorrágica, fora do sudeste da Ásia e
Pacífico. Este foi considerado o evento mais importante em relação à doença nas
Américas.Naquela ocasião, foram notificados 344.203 casos clínicos de dengue,
sendo 34 mil casos de FHD, 10.312 das formas mais severas, 158 óbitos (101 em
crianças). O custo estimado da epidemia foi de US$ 103 milhões.
Entre 1995 e o início
de 2001, foram
notificados à Organização Pan-Americana
da Saúde - OPAS, por 44 países das Américas, 2.471.505 casos de
dengue, dentre eles, 48.154 da forma hemorrágica e 563 óbitos. O Brasil, o México, a Colômbia, a Venezuela, aNicarágua e Honduras
apresentaram número elevado de notificações, com pequena variação ao longo do
período, seguidos por Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Panamá, Porto Rico, Guiana Francesa, Suriname, Jamaica e Trinidad & Tobago. Nota-se a quase ausência de
casos nos EUA, que notificaram somente sete, em 1995. A Argentina
compareceu a partir de 1998 e o Paraguai, a
partir de 1999. Os casos de dengue hemorrágica e óbitos
acompanham a distribuição descrita acima, e parece não terem relação com os
soro tipos circulantes. No Brasil, os sorotipos registrados foram o 1 e o 2.
Somente no ano de 2000 registrou-se o soro tipo 3. A Guatemala
notificou a circulação dos quatro sorotipos, com baixo número de casos graves e
óbitos.
Vetores e transmissão
Mapa de 2006. Em vermelho: locais onde dengue é uma epidemia.
Em azul: Locais com riscos moderados.
Um único
mosquito desses em toda a sua vida (45 dias em média) pode contaminar até 300
pessoas.
A
transmissão se faz pela picada da fêmea contaminada do mosquitoAedes aegypti ou Aedes albopictus, pois o macho se alimenta
apenas de seiva de plantas. No Brasil, ocorre na maioria das vezes por Aedes
aegypti. Após um repasto de sangue infectado, o mosquito está apto a
transmitir o vírus, depois de 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A
transmissão mecânica também é possível, quando o repasto é interrompido e o
mosquito, imediatamente, se alimenta num hospedeiro susceptível próximo. Um
único mosquito desses em toda a sua vida (45 dias em média) pode contaminar até
300 pessoas. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de suas
secreções com uma pessoa sadia, nem de fontes de água ou alimento. Na Ásia e
África alguns macacos silvestres podem contrair dengue e assim serem usados
como vetores, porém na América do Sul os macacos demonstraram baixa viremia,
provavelmente insuficiente e não há estudos comprovando eles como vetores.
[editar]Casos de dengue no Brasil
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No Brasil,
existem registros de epidemias de dengue no Estado de São Paulo, que ocorreram nos anos de 1851/1853 e 1916 e no Rio de Janeiro, em 1923. Entre essa
data e os anos 80, a doença foi praticamente eliminada do
país, em virtude do combate ao vetor Aedes aegypti, durante campanha de erradicação da febre amarela. Observou-se a reinfestação desse
vetor em 1967, provavelmente originada a partir dos países
vizinhos, que não obtiveram êxito em sua erradicação.Na década dosanos 80, foram registrados novos casos de dengue:
em 1981 - 1982em Boa Vista (RR); em 1986 - 1987no Rio de Janeiro (RJ); em 1986, em Alagoas e Ceará; em 1987,
em Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e São Paulo; em 1990, noMato Grosso do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro; em
1991, em Tocantins e, em 1992, no estado
de Mato Grosso.
No
período de 1986 a outubro de 1999, foram registrados, no Brasil, 1.104.996
casos de dengue em dezenove dos vinte e sete Estados. Observou-se flutuação no
número de casos notificados entre 1986 e 1993, seguido de aumento acentuado no
número de notificações no período de 1994 a 1998, com queda em 1999.
A
média anual, após 1986, foi de 78.928 casos/ano, ficando acima desse valor em
1987, com 82.446 casos; em 1990, com 103.336; em 1995, com 81.608; em 1996, com
87.434; em 1997, com 135.671; em 1998, com 363.010 e 1999, com 104.658 casos.
Observou-se
a falta de uniformidade quanto ao modo de notificação da distribuição do número
de casos, por estado. Alguns não têm dados disponíveis, enquanto outros, como
Mato Grosso, apresenta registros fragmentados, não incluindo todas as regiões.
Quanto ao estado de São Paulo, verificou-se que foram notificados os casos
confirmados por exames de laboratório e, dentre os municípios, não constava o
da capital.
No
Estado de São Paulo, a dengue foi incluída no rol das doenças de notificação
compulsória, em 1986. Em 1987, foram detectados dois focos da doença na região
de Araçatuba, os quais foram controlados. Na região
de Ribeirão Preto, a epidemia alcançou o pico em 1991, estendendo-se pelas
regiões de São José do Rio Preto, Araçatuba e Bauru, confirmando as previsões
de risco crescente de ocorrência da arbovirose.
Em
resumo, agrupando por regiões, a Sudeste foi a que registrou o maior número de
casos, sendo também a de maior população e disponibilidades de recursos para
diagnóstico e notificação. Seguem-se em relação à incidência de dengue as
regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Norte.
Em
2002, novamente o Rio de Janeiro foi castigado por uma epidemia de
dengue, agora com a entrada do vírus tipo 3. Quase 290 mil pessoas contraíram a
doença no Estado e 91 morreram em todo o Estado, sendo 65 mortes e 138 mil
casos somente na capital. Foi o ano com mais casos de dengue na história do
país, concentrados no Rio de Janeiro.
Em 10 anos, dobrou o número de Municípios infestados pelo mosquito transmissor da
dengue.
Segundo
dados do Ministério da Saúde, entre janeiro e setembro de 2006foram
registrados 279.241 casos de dengue o equivalente a 1 caso (não fatal) para
cada 30 km ² do território desse país. Um crescimento de 26,3% em relação ao
mesmo período em 2005. A maior incidência foi na Região Sudeste do Brasil. Apesar dos números, para
o Governo federal não ocorre uma nova epidemia da doença no Brasil. No entanto,
medidas para combater o mosquito foram tomadas – como mapeamento de focos do Aedes
aegypti e orientação à população das áreas com maior risco de infestação.
A
cidade de Ilha Solteira lidera o ranking da epidemia de
dengue no estado de São Paulo. Segundo dados não oficiais, Ilha Solteira com
pouco mais de 26 mil habitantes conta com mais de 13 mil casos da doença com 3
mortes até o mês de março de 2007. A prefeitura da cidade não manifestou
preocupação alguma e divulga na imprensa que no máximo 200 pessoas tiveram
dengue e que não houve qualquer caso de morte. Tal situação causa preocupação,
pois a cidade conta com mais de três mil universitários de diversas partes do
país e devido a movimentação destes, espalhar a doença mais ainda.
Em
2008, a doença volta a assustar os cariocas. Nessa epidemia, foram registrados
quase 250 mil casos da doença e 174 mortes em todo o Estado (e outras 150 em
investigação), sendo 100 mortes e 125 mil casos somente na cidade do Rio de
Janeiro. A epidemia de 2008 superou, em número de vítimas fatais, a epidemia de
2002, onde 91 pessoas morreram.
Recentemente,
houve uma epidemia de Dengue no estado do Pará, sendo que das 7000 ocorrências
no estado, 400 se deram na capital Belém. No estado, 3 pessoas se encontram sob
suspeita de dengue hemorrágica, sendo que uma é do município de Tucuruí e duas
são da capital Belém.
Entre
1º de janeiro e 13 de fevereiro de 2010, foram
notificados 108.640 pacientes com a doença, 109% a mais que no mesmo período de
2009. Os estados Mato Grosso do Sul, Acre, Rondônia, Goiás e Mato Grosso respondem por 71% desses casos. As
altastemperaturas, grande volume de chuvas e o
retorno do tipo 1 do vírus explicam parte da epidemia.
Como
se pôde observar, a doença foi reconhecida há aproximadamente 200 anos e tem
apresentado caráter epidêmico e endêmico variado. As mudanças na dinâmica de
transmissão da dengue podem ser explicadas pela baixa prevalência do vírus até
recentemente, quando houve maior disponibilidade de hospedeiros humanos. O
aumento da concentração humana em ambiente urbano propiciou crescimento
substancial da população viral. As linhagens, que surgiram antes das
aglomerações e movimentações humanas terem início, tinham poucas chances de
causar grandes epidemias e terminavam por falta de hospedeiros susceptíveis. Entretanto,
as alterações ambientais de natureza antrópica têm propiciado o deslocamento
e/ou dano à fauna e flora, bem como o acúmulo de detritos e de recipientes
descartáveis. Paralelamente, as mudanças nas paisagens têm promovido alterações
microclimáticas que parecem ter favorecido algumas espécies vetoras, em
detrimento de outras, oferecendo abrigos e criadouros, bem como a
disponibilidade de hospedeiros. A dengue e uma doença muito grave.
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